Esses dias assisti a um daqueles programas saudosistas que revivem na televisão frases nem sempre bem elaboradas, ditas por pessoas famosas. Serve como alerta para que tenhamos mais cuidado com o que estamos a dizer, ou a pensar em voz alta.
O repórter de uma grande rede nacional de televisão disse lá pelas tantas que “jamais faria uso de um telefone celular,
se há em cada quadra deste país um telefone público à disposição”. Talvez ele estivesse querendo nos dar uma ideia de como reagia às inovações tecnológicas e da dificuldade que temos de imediatamente mergulhar de corpo e alma nas inúmeras invenções colocadas ao nosso alcance. De qualquer forma, ficava evidente o desconforto do entrevistador com o tema da mania recém emergente. Era início dos anos 90 e o entrevistado, por ironia ou sorte, era o Steve, sim, o SJ. O repórter era o Pontual, e ainda bem que ele foi muito honesto na declaração sobre os orelhões.
Trouxe esta história para contextualizar outra que também emerge no boom das inovações tecnológicas: a internet e as redes sociais. Não sei se ainda há orelhões espalhados, de quadra em quadra, neste país, o que sei é que há mais telefones celulares com acesso à internet do que lan house espalhadas por aí. Enfim, a comunicação é móvel e ponto final.
Mas a internet primeiro surgiu como depositária de conhecimento, de todo o conhecimento disponível e digitalizado, uma espécie de grande arquivo onde basta se dizer o que se quer saber e pronto, tudo está ali sem necessidade de ir a uma biblioteca, ou folhear um almanaque, ou ainda uma enciclopédia. Para os amantes das orelhas e lombadas, o fim parece próximo. Mas aí surge uma inovação dentro da inovação, se não bastasse o acesso ao conhecimento, agora é possível a comunicação on line, ligando todos os computadores do mundo, promovendo uma imensa e instantânea troca de qualquer coisa: som, imagem, texto, recados, arquivos, fotos, animações, e emoções ... tudo! Do mail ao orkut, facebook, twiter, youtub, skipe e o léu... E tudo isso em muito pouco tempo. Nem dava tempo de assimilar uma inovação e lá vinha outra em cima, de forma a que hoje tudo o que a gente sempre pensou em termos de PC, agora já está disponível no também já velho celular, atualizado como iphone, smartphone ou congênere.
Mas por que essa conversa toda que já é sabida de todos? Bom, aí é que lembro de um velho ditado: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Pois é, a inovação tecnológica está aí, as redes sociais estão aí, o acesso ao conhecimento está aí, o acesso à informação está aí, a possibilidade de comunicação entre quaisquer pessoas de qualquer lugar do mundo está aí, mas ...
E o sujeito? Quem é o cidadão, o usuário, seja ele criança, jovem, adulto, um profissional, um amador, um metido ou mesmo um apaixonado, um político, um gestor, um empresário, um solitário em busca de um diálogo amigo? O que se sabe é que o sujeito internauta se dá muito bem com a vida virtual e que de alguma forma foi, e é essa sua relação que impulsiona novos avanços tecnológicos. Outra pergunta se impõe então: qual a relação do sujeito internauta com o mundo real das coisas reais?
Claro que há exemplos muitos, e no mundo inteiro eles pipocam. Na dita Primavera Árabe, vídeos feitos por aparelhos celulares expuseram – e expõem - situações constrangedoras aos detentores do poder no Egito, na Líbia, e agora na Síria. E tem também o episódio da eleição de Barack Obama, há quatro anos. Em ambos os casos, a tecnologia se pôs a serviço de ideais, de uma possibilidade de um mundo melhor. A tecnologia sendo domada e posta a serviço de causas boas e sendo o cidadão cúmplice de seu ideário transformador.
E há outros exemplos de engajamento, onde paixões tantas também interagem. A defesa do meio ambiente, dos animais e dos direitos dos animais. O direito que todos têm à vida, a uma vida de dignidade. Direito à educação, direito de aprender a ser feliz e rir, rir muito e muito. Direito de sorrir! Ouvir uma música e vociferar, gritando seu brado de liberdade aos quatro cantos, ou aos tantos cantos que há.
Enfim, internet e cidadania convivem muito bem. Um e outro, e ambos, precisam de liberdade de expressão. Liberdade para exprimir seus pontos de vista, manifestar sua repulsa ou encantamento, claramente poder dizer se vai votar, e por que vai votar, nas eleições de outubro.
Houve um tempo de algarismos, quando reinavam o 386 e depois o 486. Era um tempo caro, de difícil acesso, de disquetes flexíveis e bolachudos e acesso muito limitado às benesses da rede mundial. Hoje, nada mais é como era e ... em um exemplo de investimento correto em educação e cidadania, o Governo de Estado do Rio Grande do Sul está efetivando a distribuição gratuita de um laptop a cada aluno da rede pública estadual de ensino, e também promovendo cursos de atualização profissional para que os professores possam também usufruir da tecnologia em suas aulas.
É preciso compromisso com a liberdade de expressão e com a educação pública.
Professora Ursula 13400 - Vereadora
Bordignon 13 - Prefeito
EDUCAÇÃO, INCLUSÃO E TRANSFORMAÇÃO